16 de mar de 2025
09:07

Estudo analisa a previsibilidade das táticas esportivas no futebol feminino

Imagine que você está jogando contra um time de futebol e consegue calcular, por exemplo, seu padrão de movimentação no campo. Isso te daria uma grande vantagem, não é? Sua equipe poderia prever a trajetória da bola e interceptar um passe do oponente. O pesquisador Thomas Kisil Marino, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, estuda a possibilidade de realizar essa previsão a partir da análise da dinâmica de perturbações – incidente que altera a estabilidade do jogo, gerando vantagem ao ataque – em campeonatos de futebol feminino, mas que também pode ser aplicada em partidas de futebol masculino.

A pesquisa tem o título provisório de Perturbações no futebol feminino: origens, causas e desfechos, e está em desenvolvimento desde 2021, sob orientação do professor Alexandre Moreira, da EEFE. Kisil Marino buscou compreender como as perturbações costumam ser geradas. Segundo ele, trata-se do momento em que a estabilidade da relação entre ataque e defesa se perde, surgindo um novo padrão de organização das jogadoras e acarretando a transição de fase. As perturbações podem ser um passe, um drible, uma condução de bola ou até mesmo uma combinação entre essas três ações, podendo levar a diversos desfechos ou estados finais, como uma finalização, uma falta defensiva, um desvio defensivo, entre outros.

Kisil Marino explica a metodologia utilizada para compreender as perturbações. “Nós consideramos a partida como um sistema, em que cada jogadora é um componente. No futebol, especificamente, enquanto um time tem a posse de bola, o outro time está defendendo. O sistema apresenta um certo padrão de regularidade, mas tem momentos no jogo em que o ataque consegue quebrar a defesa e mudar o padrão de equilíbrio. A ação responsável por essa mudança no sistema é a perturbação”, exemplifica o pesquisador. 

Thomas Kisil Marino - Foto: Arquivo Pessoal

Thomas Kisil Marino

Para compreender a dinâmica das perturbações, Kisil Marino analisou 266 casos em 13 partidas da UEFA Women’s Champions League 2021-22, das quartas de final até o último jogo. Todas as transmissões estão disponíveis no YouTube, com acesso público, pelo canal DAZN Women’s Football. O pesquisador procurou ainda investigar em quais áreas do campo de futebol se iniciam e finalizam as perturbações, dividindo o espaço em 18 partes, conforme a imagem a seguir. Essa estratégia foi baseada no artigo O processo de ataque no futebol: uma taxonomia para classificar como as equipes criam oportunidades de gol usando um estudo de caso do Crystal Palace FC, dos pesquisadores Jongwon Kim, Nimai Parmar e Goran Vuckovic.

Para melhor compreender as dinâmicas de perturbações do jogo, o pesquisador utilizou o campo dividido em 18 partes usado num estudo de caso do Crystal Palace FC – Foto: Thomas Kisil Marino

No cenário atual da pesquisa, Kisil Marino obteve os seguintes resultados: observaram-se 266 perturbações, separadas em 21 tipos diferentes: três vindos de ações isoladas, como passe, drible ou condução, totalizando 145 casos; somados a outros 18 tipos, com a combinação dessas ações, totalizando mais 121 casos. 

Além disso, apontou-se que não é possível prever em que área do campo de futebol as jogadoras vão iniciar e finalizar suas perturbações, com base em um coeficiente de variabilidade relativo utilizado no estudo. Porém, pode-se encontrar alguma regularidade na trajetória entre a zona de origem e destino da perturbação. 

Em um exemplo prático, um técnico pode avaliar sua equipe e tentar descobrir qual é o padrão de criação de perturbações que ela consegue fazer com mais êxito. Mas é possível ir ainda mais longe: pode-se pegar vários vídeos do time adversário jogando, fazer a mesma análise de Kisil Marino e identificar a tendência de perturbações que a equipe costuma criar. Com isso, será possível encontrar padrões em suas movimentações, sendo, por exemplo, a recorrência de perturbações que partem mais da zona quatro e cinco do campo do que das demais.

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