Da redação
A Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) deflagrou, nesta quarta-feira (18), a Operação Nota Fria, visando desarticular um esquema de fraude envolvendo a emissão de duplicatas simuladas em uma agropecuária com sede no município de Sapezal, no interior de Mato Grosso. As investigações apontam para a prática de um esquema de notas fiscais fraudulentas emitidas por uma empresa de serviços de borracharia que, na verdade, não prestou os serviços registrados.
A operação cumpriu ordens de busca e apreensão em endereços domiciliares e em uma empresa nas cidades de Sapezal e Rondonópolis, como parte do trabalho investigativo que apura os danos financeiros causados à agropecuária.
De acordo com o delegado Mário Santiago, responsável pelo inquérito, o principal investigado é R.A.S., de 42 anos, ex-funcionário da fazenda e responsável pelos setores de lubrificação e abastecimento. Ele tinha autonomia para gerir a manutenção dos pneus dos veículos da propriedade. Em janeiro do ano passado, R.A.S. cadastrou uma empresa de borracharia e recapagens de pneus, situada em Rondonópolis, como prestadora de serviços da agropecuária. Contudo, as investigações revelaram que a empresa emitiu 250 notas fiscais, somando R$ 3 milhões, por serviços que jamais foram realizados.
A fraude foi descoberta após uma apuração interna na agropecuária, que verificou a inexistência de registros de entrada e saída de pneus no período em questão, indicando que os serviços de recapagem nunca ocorreram.
A empresa investigada, com um capital social de apenas R$ 5 mil, foi constituída há quatro anos e tem como atividade principal a consultoria em gestão empresarial. O serviço de borracharia, que nunca foi de fato prestado, é uma atividade secundária registrada em seu cadastro. Os valores das notas fiscais emitidas pela empresa, além de não corresponderem aos serviços prestados, eram claramente incompatíveis com a demanda da agropecuária de Sapezal.
Somente em 2023, a fazenda pagou R$ 1.226.674,22 em notas fiscais de serviços que não ocorreram. Em 2024, o valor subiu para R$ 1.636.327,32. A investigação ainda apontou que, em comparação com outra propriedade do mesmo grupo agropecuário, a fazenda de Sapezal pagou quase dez vezes mais por serviços de recapagem, apesar de possuir menos veículos.
Durante a operação, uma inspeção no computador corporativo de R.A.S. revelou uma proposta comercial que indicava a revisão de documentos antes da conversão em PDF, além de uma discrepância nas contas de e-mail corporativo, onde não constavam orçamentos enviados pela empresa de Rondonópolis, mas sim diversas notas fiscais para os setores responsáveis pelos lançamentos e pagamentos.
O delegado Mário Santiago destacou dois aspectos curiosos durante a investigação: a distância de 750 km entre a sede da agropecuária em Sapezal e a prestadora de serviços em Rondonópolis, e a emissão sequencial de notas fiscais, que sugeria que a fazenda seria praticamente o único cliente da empresa investigada.
A Operação Nota Fria contou com o apoio das delegacias de Sapezal e de Rondonópolis e segue com investigações para desarticular a fraude e responsabilizar os envolvidos.