Artista mato-grossense é única mulher trans selecionada em edital da Funarte e faz desfile em praça

A artista trans Alice Anayumi foi a única mulher trans do Brasil selecionada no “Edital
Retomada”, da Fundação Nacional das Artes (Funarte), e vai realizar o desfile “Alegorya”, em 5
de abril, no lago municipal Vô Pedro Viana, em Primavera do Leste.

Alice também representa uma das oito pessoas pretas que tiveram seus projetos aprovados
no edital. A artista explica que “o projeto busca, através da linguagem figurinista e teatral,
abarcar contos folclóricos mato-grossense, traçando um paralelo entre a moda e as culturas
do Estado de Mato Grosso que foram perdidas ao longo dos anos”.

Também deve compor o cenário, elementos drag, artes plásticas e visuais, além de 20
figurinos da alta costura representando cores predominantes na região de Mato Grosso.

Ao todo o edital teve 3.857 projetos inscritos. Apenas 47 foram contemplados. Desse total,
quatro são do Centro-Oeste e dois são de Mato Grosso, sendo Alice Anayumi dona de um
deles.

Alice faz parte do cenário cultural de Primavera do Leste desde muito jovem, quando iniciou
suas manifestações artísticas no tradicional Grupo de Teatro Faces Jovem. Sua ascensão na
arte mato-grossense veio junto a Peça “Alice”, que, resumidamente, traz a temática “Bullying
na Escola” atrelado ao preconceito sobre raça, gênero e classe social.

“Alice” sempre está em cartaz no Festival Velha Joana, o maior de Mato Grosso, que ocorre
anualmente em Primavera do Leste. Mas a peça ultrapassa os limites geográficos matogrossense e já foi apresentado em outros estados, como no Amazonas, em 2018, durante o
projeto Amazônia das Artes, de circulação do Serviço Social do Comércio (SESC).

A artista também é reconhecida pela exposição “Tons de MT”, a primeira exposição individual
de Alice que atravessa a moda, artes plásticas e visuais, e que traz como narrativa as
violências que os corpos transsexuais sofrem no Estado. A exposição é a inspiração para
“ALEGORYA – O Desfile”, o projeto que conquistou os avaliadores da Funarte e que traz para
Primavera do Leste a possibilidade de tamanha representatividade artística.

Responsabilidade social

Cumprindo os requisitos do edital, o desfile vai desempenhar o objetivo de oportunizar outra
forma de renda para membros da sociedade. O manuseio das peças provém das mãos de
costureiras do interior de Mato Grosso. Dezenas de materiais foram adquiridas no comércio,
fomentando a economia local. E alguns itens que compõe o cenário, acessórios e figurinos
são feitos de materiais reciclados.

O Desfile promete trazer representatividade de pessoas LGBTQIA+, pessoas pretas, pessoas
PcD e outras pertencentes às comunidades consideradas minoritárias na sociedade.

“Esse trabalho é uma forma de personificar sensações que costumam ser reprimidas.
Queremos trazer para o espaço livre de convivência as comunidades que são colocadas às
margens da sociedade, assim como eu acredito que deveria ser naturalmente”, detalha a
artista.

Parte da equipe que torna o evento possível é composta por mulheres transsexuais que
atuam como garota de programa e que, a partir desta iniciativa, podem encontrar outras
formas de angariar renda.

“Ser uma travesti e preta no interior desse Estado é ser refém do medo a todo instante. Mas,
através de políticas de fortalecimento como essa, conseguimos escrever novas
possibilidades para vermos brilhar a luz da diversidade, de viver e de ser”, afirma Alice.

Fonte: www.olharconceito.com.br

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