Da redação
Um relatório elaborado pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil revelou um dado alarmante sobre os feminicídios ocorridos em Mato Grosso ao longo de 2024: 85% das mulheres assassinadas estavam aptas para o trabalho e para construir suas carreiras. O levantamento traz um panorama detalhado sobre o perfil das vítimas, sua condição socioeconômica e a relação com os agressores.
Segundo os dados, 32% das vítimas tinham entre 18 e 29 anos, enquanto 53% estavam na faixa etária entre 30 e 39 anos. Essas idades representam momentos de maior produtividade econômica e pessoal, além de serem períodos importantes para a maternidade. Ao todo, 47 mulheres foram mortas em Mato Grosso no último ano simplesmente por sua condição de gênero.

O caso de Raquel Maziero Cattani
Entre os crimes investigados, um dos que mais chocaram a sociedade foi o assassinato da agricultora e empresária Raquel Maziero Cattani, de 26 anos. Em julho de 2024, Raquel foi brutalmente morta em seu sítio, no assentamento Pontal do Marape, na zona rural de Nova Mutum. O crime foi encomendado pelo ex-marido da vítima, Romero Xavier Mengarde, que contratou o próprio irmão, Rodrigo Xavier Mengarde, para executar o assassinato.
O crime foi meticulosamente planejado para despistar as investigações. No entanto, em apenas cinco dias, a Polícia Civil conseguiu desvendar a trama e prender os irmãos, que agora respondem por homicídio triplamente qualificado: feminicídio, promessa de recompensa e emboscada que impossibilitou a defesa da vítima. Raquel deixou duas crianças órfãs.
Perfil das vítimas e relação com os agressores
O relatório aponta que a maioria das vítimas possuía baixa escolaridade: 57% tinham apenas o ensino fundamental, 25% concluíram o ensino médio e 11% possuíam nível superior. Além disso, 76% das mulheres assassinadas tinham algum tipo de renda e trabalhavam em ocupações como diaristas, vendedoras, manicures, professoras e cabeleireiras.
A violência doméstica continua sendo a principal causa dos feminicídios. Segundo os dados, 57% dos crimes foram cometidos por parceiros íntimos atuais das vítimas. Já os ex-companheiros foram responsáveis por 17% dos casos. Outros 13% dos assassinatos foram cometidos por familiares e 8% por pessoas com quem as vítimas tinham relações casuais.
O tempo de relacionamento também é um fator relevante: 36% das vítimas conviviam entre um e cinco anos com seus agressores, enquanto 19% mantiveram relações por períodos entre 10 e 20 anos.
Monitoramento e combate ao feminicídio
Desde 2021, a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil elabora esse relatório anual sobre os feminicídios em Mato Grosso. O documento é produzido a partir da análise de boletins de ocorrência, inquéritos policiais e cruzamento de informações, permitindo um mapeamento mais detalhado das circunstâncias dos crimes e dos perfis das vítimas e agressores.
A divulgação desses dados reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes para a prevenção da violência contra a mulher e o combate ao feminicídio, crime que ainda assombra o estado e o país.