14 de mar de 2025
15:27

Feminicídios em Mato Grosso: 85% das vítimas estavam aptas para o mercado de trabalho, aponta relatório da Polícia Civil

Da redação

Um relatório elaborado pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil revelou um dado alarmante sobre os feminicídios ocorridos em Mato Grosso ao longo de 2024: 85% das mulheres assassinadas estavam aptas para o trabalho e para construir suas carreiras. O levantamento traz um panorama detalhado sobre o perfil das vítimas, sua condição socioeconômica e a relação com os agressores.

Segundo os dados, 32% das vítimas tinham entre 18 e 29 anos, enquanto 53% estavam na faixa etária entre 30 e 39 anos. Essas idades representam momentos de maior produtividade econômica e pessoal, além de serem períodos importantes para a maternidade. Ao todo, 47 mulheres foram mortas em Mato Grosso no último ano simplesmente por sua condição de gênero.

O caso de Raquel Maziero Cattani

Entre os crimes investigados, um dos que mais chocaram a sociedade foi o assassinato da agricultora e empresária Raquel Maziero Cattani, de 26 anos. Em julho de 2024, Raquel foi brutalmente morta em seu sítio, no assentamento Pontal do Marape, na zona rural de Nova Mutum. O crime foi encomendado pelo ex-marido da vítima, Romero Xavier Mengarde, que contratou o próprio irmão, Rodrigo Xavier Mengarde, para executar o assassinato.

O crime foi meticulosamente planejado para despistar as investigações. No entanto, em apenas cinco dias, a Polícia Civil conseguiu desvendar a trama e prender os irmãos, que agora respondem por homicídio triplamente qualificado: feminicídio, promessa de recompensa e emboscada que impossibilitou a defesa da vítima. Raquel deixou duas crianças órfãs.

Perfil das vítimas e relação com os agressores

O relatório aponta que a maioria das vítimas possuía baixa escolaridade: 57% tinham apenas o ensino fundamental, 25% concluíram o ensino médio e 11% possuíam nível superior. Além disso, 76% das mulheres assassinadas tinham algum tipo de renda e trabalhavam em ocupações como diaristas, vendedoras, manicures, professoras e cabeleireiras.

A violência doméstica continua sendo a principal causa dos feminicídios. Segundo os dados, 57% dos crimes foram cometidos por parceiros íntimos atuais das vítimas. Já os ex-companheiros foram responsáveis por 17% dos casos. Outros 13% dos assassinatos foram cometidos por familiares e 8% por pessoas com quem as vítimas tinham relações casuais.

O tempo de relacionamento também é um fator relevante: 36% das vítimas conviviam entre um e cinco anos com seus agressores, enquanto 19% mantiveram relações por períodos entre 10 e 20 anos.

Monitoramento e combate ao feminicídio

Desde 2021, a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil elabora esse relatório anual sobre os feminicídios em Mato Grosso. O documento é produzido a partir da análise de boletins de ocorrência, inquéritos policiais e cruzamento de informações, permitindo um mapeamento mais detalhado das circunstâncias dos crimes e dos perfis das vítimas e agressores.

A divulgação desses dados reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes para a prevenção da violência contra a mulher e o combate ao feminicídio, crime que ainda assombra o estado e o país.

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