Da assessoria
Um consultório odontológico pode ser um ambiente desafiador para crianças e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sons altos, luzes fortes e o contato físico com desconhecidos podem gerar ansiedade e dificultar o tratamento. Pensando nisso, o Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso (CRO-MT) promoveu, nesta quarta-feira (16.04), um encontro para capacitar profissionais no atendimento humanizado a esses pacientes, com estratégias que vão desde a adaptação do espaço físico até a forma de comunicação.

O evento, realizado em Cuiabá como parte das ações do “Abril Azul”, reuniu profissionais da odontologia das redes pública e privada. “Essa ação faz parte das comemorações do mês de abril voltadas para o autismo, em parceria com a Saúde Digital, a Secretaria Municipal de Saúde e a Diretoria Municipal de Saúde Bucal”, explicou a presidente do CRO-MT, doutora Wânia Dantas.
Wânia Dantas destacou ainda a importância das parcerias entre município e estado para ampliar o acesso ao tratamento odontológico inclusivo. “Precisamos ir além da técnica. É sobre entender as particularidades de cada paciente e criar um vínculo de confiança”, afirmou.
Um dos momentos mais emocionantes foi o depoimento da vereadora e primeira-dama de Cuiabá, Samantha Iris, mãe de Sebastian, de 4 anos, que tem autismo. Ela reforçou a importância da escuta ativa. “Quando o profissional se permite conhecer a criança, tudo flui melhor. É preciso estar aberto a se surpreender”, disse, lembrando que pequenas adaptações no consultório e na abordagem podem fazer toda a diferença.
A cirurgiã-dentista Cibeli Rodrigues, especialista em atendimento a pacientes com necessidades especiais e coordenadora de Saúde Bucal de Primavera do Leste, trouxe exemplos práticos de como conduzir um atendimento eficaz, que inclui adaptações no consultório, como controle da luminosidade e do ruído.
A psicóloga Kelly Constantino, psicóloga de apoio terapêutico com pós-graduação em ABA e manejo de comportamentos disfuncionais, alertou para a necessidade de acompanhamento pós-consulta, já que muitas crianças e adultos podem apresentar desregulações emocionais após o procedimento. Outro ponto destacado foi a percepção atípica da dor em pacientes com TEA, que exige atenção redobrada do profissional para identificar sinais de desconforto.
A iniciativa faz parte de um projeto contínuo do conselho, por meio da Comissão CRO-MT no Espectro, que já havia realizado uma primeira etapa com palestra em parceria com a Saúde Digital. Agora, a segunda fase priorizou o contato presencial e a troca de experiências práticas entre os participantes. O objetivo é que, mesmo os profissionais que não se sintam aptos a atender casos mais complexos, saibam acolher as famílias e fazer os encaminhamentos adequados.
“Quando você acolhe o filho, você também está acolhendo essa família. Nós, profissionais, precisamos entender se estamos aptos a realizar o atendimento. Se não estivermos, devemos buscar orientação para essa família, para que eles não fiquem perdidos e sejam amparados de alguma forma”, reforçou Mayra Duarte, cirurgiã-dentista e presidente da Comissão CRO no Espectro.
Também participaram do evento, como palestrantes e integrantes da roda de conversa, Martha Maria Aquilino – cirurgiã-dentista e diretora do Centro Estadual de Odontologia para Pacientes Especiais (CEOPE-MT) – e Jackeline Rodrigues Silva – mestre em Psicologia e representante da APAE Cuiabá.
CRO no Espectro
O encontro faz parte de uma série de iniciativas do Conselho Regional de Odontologia de Mato Grosso que tiveram início em abril de 2024, quando foi criada a Comissão CRO no Espectro, com o objetivo de ampliar a orientação e conscientização sobre o tema. Em outubro do mesmo ano, o CRO-MT realizou o Primeiro Simpósio voltado para Pediatria e Odontopediatria, que incluiu palestras com foco no atendimento a pacientes com TEA.