Especialista afirma que cânceres de origem genética representam apenas 10% dos casos e, por isso, a atenção com os hábitos saudáveis.
Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), foram estimados cerca de 73.610 novos casos somente no Brasil para o ano de 2023.
Você sabia que existem vários tipos de câncer de mama, como o tumor filóide, carcinoma ductal in situ, angiossarcoma, doença de Paget, carcinoma inflamatório e carcinoma ductal invasivo? E identificá-los é essencial para ter um tratamento eficaz o quanto antes. Quem explica os detalhes é Karina Belickas, ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital e Maternidade Santa Joana.
Ela conta que é comum classificarem o câncer de mama entre hereditário e esporádico:
- O primeiro se refere àqueles com uma carga genética que passa de pais para filhos, capaz de aumentar o risco na pessoa e, geralmente, é identificado por pesquisa genética.
- O segundo é aquele que pode aparecer ao longo da vida por diversos motivos, como um estilo de vida pouco saudável, fatores hormonais ou dietéticos, sobrepeso, obesidade, alimentação inadequada, sedentarismo e outros danos adquiridos ao longo da vida.
“O hereditário corresponde a só 10% dos casos. Na população geral, a taxa de câncer de mama sem ser genético, que é o esporádico, seria de 90%. Então, a maior maioria das pessoas não tem mutação herdada, muitas se baseiam nisso para achar que elas são alto risco ou baixo risco, mas essa informação sozinha não é suficiente: ‘Ah, eu não tenho ninguém na minha família, então eu não vou ter.’ E não é bem assim que funciona. Todo mundo precisa ter uma atenção”, alerta a médica.
Como o câncer hereditário é transmitido?
Karina começa explicando que “não é porque a pessoa tem genética para ter pressão alta, que ela vai ter”, assim como “não são 100% das pessoas com histórico de câncer de mama, ou mutação de câncer de mama, que vão ter a doença”.
“A gente sempre fala uma coisa em relação a doenças genéticas, que existe uma penetrância. É o quanto aquele gene, normalmente, expressa suas informações nas pessoas, mas não ocorre em 100% das pessoas com aquela informação. A expressão de determinada mutação depende dos hábitos e exposições ao longo da vida, com influência direta na ativação dos genes. Essa penetrância varia de gene para gene, além dos fatores de risco que vão influenciar aquelas pessoas que têm mutação. Então, nesse caso, elas têm um potencial maior de ter aquela doença”, detalha.
Quando se tem um câncer, significa “que a célula começou a se proliferar de uma forma errada e o seu corpo não soube identificar aquela proliferação”. Conforme essa célula vai se multiplicando, ela pode formar um tumor em uma parte do corpo ou gerar um “aglomerado de células” que consegue se espalhar, resultando na chamada metástase.
“Acontece que, quem tem uma mutação [genética], já tem alguma falha nesse sistema, então, algumas mutações fazem com que o corpo consiga reconhecer menos células alteradas. Portanto, o sistema hereditário está associado a isso: ou a pessoa já tem algumas mutações que predispõem ao câncer, sendo necessárias menos alterações novas para ter a doença, ou se a pessoa tem uma mutação que faz com que ela fique mais exposta a células que sejam diferentes e que o corpo não reconhece.”
Já um indivíduo que teve câncer esporádico não consegue passar para frente aquela mutação genética, porque ela só consegue transmitir a mutação que já fazia parte do seu DNA basal. Isso porque essas alterações acontecem de forma regional:
“A mesma mutação da mama, por exemplo, não ocorre no fígado, no rim, no ovário. Além disso, as células ovarianas que irão formar os embriões já são definidas no útero da gestante, então ela não forma mais óvulos durante a vida e eventuais mutações que ela tenha depois não vão ser representadas naqueles óvulos: a genética que você vai passar não está a mesma que você adquiriu pelas mutações e pelas exposições que teve.”
Mas, além da genética, existem outras questões que podem interferir neste caso:
“Nossos hábitos influenciam a nossa genética. Então, você tem a mutação, mas você pode não apresentar o fenótipo daquela mutação, que a gente fala que é como aquele gene se representa, como você identifica as coisas em relação com aquele gene, porque você fez coisas que te protegeram.”
O tipo de câncer de mama influencia a escolha do tratamento?
Não é somente o tipo que vai definir esse processo, mas o tamanho do tumor, sua localização e se existem células em outros lugares, linfonodos e se tem metástase em alguma parte do corpo.
“A gente consegue orientar melhor o tratamento que vai usar, avaliar o tumor em qualquer grau, se é um grau nuclear mais alto ou mais baixo, um grau histológico [análise microscópica de tecidos e células] mais alto ou mais baixo. Mas isso, para a gente, vai representar que ele pode ser mais ou menos agressivo, em momento nenhum vai influenciar, por exemplo, a fazer cirurgia ou quimioterapia. Muitas vezes, o pessoal da radioterapia até pode usar isso como referência para programar o tratamento”, afirma a médica.
Como dito anteriormente, o tipo esporádico representa a maior parte dos casos. É aí que entram os alertas para que as pessoas façam regularmente os autoexames nas mamas e a mamografia, além de manter hábitos saudáveis:
“Você precisa ter uma vida saudável para que você reduza a chance do câncer, porque quando você tem maus hábitos, falando de novo de DNA, expõe as células a riscos, às situações adversas e vai propiciar que ela tenha mutações que, eventualmente, possam levar ao câncer. Quando se tem um uso de medicação inadequada, um hormônio em excesso, você pode favorecer células a terem uma proliferação inadequada. E quando você fala em alimentação inadequada, de alimentos embutidos, industrializados, você está expondo o seu corpo, muitas vezes, a compostos que não são os mais indicados”, exemplifica a especialista.