Da redação
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) realizou, no fim da tarde desta terça-feira (1º), a primeira audiência pública com o tema “A realidade, as perspectivas e os desafios das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”. O evento, proposto pelo deputado estadual Wilson Santos (PSD), marcou as ações pelo Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado nesta quarta-feira (2), e reuniu cerca de 250 pessoas no Plenário das Deliberações Deputado Renê Barbour.
A audiência teve como objetivo ouvir mães, cuidadores e especialistas, além de reunir representantes de diferentes esferas de poder e entidades da sociedade civil. Participaram autoridades federais, estaduais e municipais, assim como instituições que lutam pela inclusão e assistência de pessoas com dificuldades no neurodesenvolvimento.

Wilson Santos, que há anos atua em defesa da causa, destacou que a audiência ultrapassou o caráter de debate técnico. “Foi um momento onde sentimos a dor, a luta e as experiências de quem vive no dia a dia os desafios de ter um filho ou familiar com este diagnóstico. Precisamos fortalecer as políticas públicas para o público neurodivergente e garantir uma sociedade mais inclusiva”, afirmou.
A presidente do Instituto Psicossocial Renascer do Autismo (IPRA), Juliana Fortes, relatou que a audiência atendeu a um verdadeiro “grito de socorro” da comunidade autista. Segundo ela, embora haja leis voltadas para esse público, falta efetividade. “As mães que participaram aqui hoje vieram, mais uma vez, pedir providências para o caos que estamos vivendo nas áreas de saúde e de educação. Não é só uma questão de política pública, é de sensibilidade humana”, desabafou.
Juliana também relatou que mesmo famílias com melhores condições financeiras enfrentam dificuldades para encontrar profissionais qualificados. “Agora imaginem quando esse autista nasce em situação de extrema vulnerabilidade?”, questionou, ao lembrar que o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não oferece tratamento interdisciplinar necessário.
Casos como o de Julien Stefani da Silva Carmo, mãe de quatro filhos autistas, e Gabriela Escouto, que busca acompanhamento para sua filha de três anos, expuseram os gargalos no atendimento público. Julien afirma estar há cinco anos na fila de espera. Gabriela, por sua vez, recorreu à Defensoria Pública após mais de um ano sem conseguir qualquer atendimento pelo SUS.
Outro ponto crítico abordado foi a inclusão escolar. Professores relataram que, em 2025, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) passou a negar o envio de profissionais do Programa de Apoio Pedagógico (PAP) para acompanhar alunos com TEA em escolas regulares. O deputado Wilson Santos se comprometeu a encaminhar as denúncias à Seduc.
A deputada estadual Marildes Ferreira (PSB) alertou para o descompasso entre a existência das leis e sua execução. “As políticas públicas existem, mas não alcançam essa população como deveriam. A educação, por exemplo, foi um dos pontos mais impactantes. Precisamos unir forças para garantir os direitos dessas mães e crianças”, afirmou.
O deputado e médico Lúdio Cabral (PT) destacou que a complexidade do diagnóstico e do tratamento exige uma abordagem multiprofissional, com psicólogos, neuropediatras, terapeutas ocupacionais, entre outros. “O sistema precisa se organizar e capacitar suas equipes para o diagnóstico precoce e um atendimento contínuo e humanizado”, pontuou.
A vereadora e primeira-dama de Cuiabá, Samantha Íris (PL), também mãe atípica, falou sobre os esforços da atual gestão municipal para buscar soluções práticas. “Estamos há 90 dias na administração e queremos que esses momentos não fiquem apenas no discurso, mas resultem em políticas efetivas”, disse.
Representantes de dez municípios estiveram presentes, junto a órgãos como os Ministérios da Educação e dos Direitos Humanos, Defensoria Pública, OAB-MT, Seduc, SES, Conede, e demais entidades da capital e do interior do estado. O evento foi gratuito, com transmissão ao vivo pelos canais da Assembleia e emissão de certificados aos participantes.
Conscientização e mobilização
Como parte das ações pelo Dia Mundial de Conscientização do Autismo, será realizada nesta quarta-feira (2), no saguão da ALMT, uma feira com exposições e iniciativas de pessoas ligadas ao movimento de luta pelos direitos dos autistas. O objetivo é reforçar a importância da inclusão, da empatia e da criação de uma rede de apoio real às famílias atípicas.