04 de jul de 2025
20:09

Ana Paula Araújo: ‘Quem agride mulher não é um monstro, é o homem comum’

Um dos rostos mais conhecidos e prestigiados do telejornalismo brasileiro, Ana Paula Araújo, âncora do Bom Dia Brasil, lança seu segundo livro “Agressão: A Escalada da Violência Doméstica no Brasil” (Globo Livros).

Ana Paula Araújo: jornalista lança novo livro sobre violência doméstica no Brasil.

Anteriormente, a jornalista já havia publicado “Abuso: A Cultura do Estupro no Brasil” em que investigou as razões desse tipo prática ser tão comum em nosso país e as consequências para quem sofre esse crime.

Agora, Ana Paula vai além e, em sua nova obra, revela as diversas facetas da violência contra a mulher. Em conversa com a coluna, a jornalista deu mais detalhes sobre “Agressão: A Escalada da Violência Doméstica no Brasil”

O que fez você querer escrever sobre o tema?
É um pouco difícil encontrar respostas para isso. Entrei nessa pesquisa sobre estupro e violência sem um grande motivo, mas por ser mulher, por ter uma filha de 19 anos e por acreditar que, quanto mais a gente fala do assunto e mostra que mais a violência de gênero está no dia a dia, mais as pessoas se conscientizam sobre esse problema. Olhando para o passado, vejo que eu enfrentava coisas que não percebia que era violência contra a mulher. Quando discutimos essa questão, conseguimos libertar outras mulheres e construir uma sociedade mais igualitária…

Como foi feita a seleção das histórias das vítimas que entraram no livro?
A ideia foi ter perfis diferentes para mostrar que a violência doméstica está presente em todas as idades, em famílias estruturadas ou não. Percorri várias regiões do país para traça esse retrato e mostrar que estamos em uma epidemia. Em muitos casos, uma mulher é vítima de violência de gênero por não ter condições financeiras de se sustentar, mas acontece de mulheres que têm condições financeiras viverem esse tipo de violência por conta da dependência emocional do parceiro.

Temos mais registros de mulheres pobres e negras que relatam violência doméstica, talvez, porque elas procurem mais a polícia. Há uma quantidade de mulheres de classe média que sofrem com esse problema, mas têm vergonha de denunciar. É bom enfatizar que quando falamos de violência de gênero, não nos referimos apenas a agressões físicas, mas também a violência psicológica, violência digital e violência patrimonial.

Como identificar o início do processo de violência patrimonial?
Em geral, violência patrimonial vem travestida de cuidado. O homem se oferece para ajudar a mulher a gerenciar o próprio dinheiro. Aos poucos, ele começa a controlar o que ela ganha e ela passa a ter que dar satisfação de suas movimentações financeiras. Ela perde a independência. No livro, eu conto o caso de uma médica, que atendia vítimas de violência doméstica, que pensava estar atenta a todas as nuances que envolve esse tipo de violência, mas que ficou casada durante anos com um homem que a coagia a pagar conta da casa, a pegar empréstimos para ele no nome dela. O casamento acabou e ela ficou com uma dívida em cartão de crédito e no banco por causa do empréstimo.

Você declarou que não há um padrão de vítima, mas há um padrão de agressor?
O que eu gostaria de destacar é que esses homens que praticam violência de gênero não são monstros, são homens comuns. O homem que agride mulher está no nosso ambiente de trabalho, a gente convive e não faz ideia do que ele faz com a namorada ou com a esposa. É o homem que se sente autorizado a exercer sua violência sobre a mulher, sobre as decisões.

Muitos homens não percebem que o que eles fazem é violência como, por exemplo, querer controlar o método anticoncepcional da mulher. O homem não pode interferir nessa decisão, porque isso é questão de autonomia da mulher. A nova geração que deveria ser mais esclarecida está repetindo padrão machista de outras gerações e vemos isso nos casos de crimes virtuais em que meninos adolescentes são agressores de meninas adolescentes.

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