26 de ago de 2025
17:27

Alta dos fertilizantes pressiona produção agrícola e amplia risco de inflação dos alimentos no Brasil

Redação com Assessoria

O Brasil tem enfrentado, nos últimos anos, uma escalada nos desafios econômicos, com destaque para o aumento expressivo nos custos de produção agrícola. O principal vilão do momento são os fertilizantes, insumos essenciais que vêm sofrendo sucessivos reajustes, impulsionados por fatores como a alta do dólar, instabilidades geopolíticas e oscilações na oferta global.

De acordo com o último Relatório Focus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) projetado para 2025 é de 5,65%, enquanto a taxa Selic permanece em 14,25%. Ambos os índices têm impacto direto sobre o custo dos insumos agrícolas. Com o dólar cotado a R$ 5,88, os preços dos fertilizantes importados disparam, pressionando a cadeia produtiva e, por consequência, os preços dos alimentos no varejo.

No Mato Grosso, maior produtor de soja do país, o cenário preocupa. Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) mostram que, até fevereiro de 2025, apenas 38,4% dos produtores haviam adquirido fertilizantes para a safra 2025/26 — um número muito abaixo da média registrada nas últimas cinco safras. O motivo? A disparada nos custos. A produção de soja, por exemplo, teve um aumento de 4,5% no custo por hectare, atingindo R$ 7,43 mil. Os fertilizantes representam R$ 1,86 mil desse total, com uma alta de 7,6%.

Além disso, a relação de troca entre grãos e insumos tem sido desfavorável para os produtores. Para adquirir fertilizantes como MAP (fosfato monoamônico) e KCl (cloreto de potássio), é necessário entregar mais sacas de soja — o que reduz a margem de lucro. Segundo levantamento do IMEA, 56% dos agricultores consideram essa relação prejudicial. O MAP, por exemplo, apresentou aumento de 20% e, em março, foi cotado a R$ 4.750 por tonelada no estado.

Com custos em alta e acesso ao crédito cada vez mais difícil, muitos produtores estão sendo forçados a tomar decisões duras. Cerca de 47,3% dos agricultores do Mato Grosso afirmam que não irão utilizar MAP na próxima safra e 10,6% planejam reduzir a dosagem. Tendência semelhante é observada em outros fertilizantes, como o Super Simples, Super Triplo e o potássio. A medida pode comprometer a nutrição das lavouras, impactando negativamente a produtividade.

“O produtor está sendo forçado a fazer escolhas difíceis. Com custos altos e crédito escasso, a tendência é cortar onde dá e o fertilizante é um dos primeiros alvos. Mas isso tem um efeito em cadeia: menor investimento na lavoura, menor produtividade e, por fim, alimentos mais caros chegando à mesa da população”, afirma o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.

A preocupação vai além do campo. A possível queda na produtividade agrícola tende a reduzir a oferta interna de alimentos, agravando a inflação já sentida pelas famílias brasileiras. O segundo semestre, tradicionalmente mais crítico para a distribuição de fertilizantes, também gera apreensão. Segundo o IMEA, 43,5% dos produtores ainda não definiram como irão financiar a compra dos insumos, revelando o grau de insegurança que paira sobre o setor.

Diante desse cenário, especialistas e representantes do setor agrícola pedem atenção do governo federal. “Cabe ao governo fazer sua parte, ajustando os próprios custos e promovendo equilíbrio fiscal, para que o peso da instabilidade econômica não continue recaindo sobre quem produz e sobre quem consome”, finaliza Beber.

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