15 de mar de 2025
00:54

Movimentações suspeitas entre advogadas e conexões com venda de sentenças apontam investigações do Coaf e PF

Da redação

Uma reportagem do Portal Uol, publicada nesta segunda-feira (24), revelou movimentações financeiras suspeitas envolvendo a esposa do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, a advogada Mirian Ribeiro Rodrigues, e Aline Gonçalves de Souza, esposa do desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) e também advogada.

Esquema de Venda de Sentenças em Investigações

O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), encaminhado à Polícia Federal, integra as investigações sobre um possível esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e em diversos Tribunais de Justiça do país. Andreson, apontado como o principal operador do esquema, contava com o apoio do advogado Roberto Zampieri – assassinado em dezembro de 2023. A análise do celular de Andreson revelou conversas suspeitas envolvendo desembargadores, empresários e assessores de ministros do STJ, reforçando as indagações sobre a integridade dos envolvidos.

Transações de Alto Valor e Relacionamentos Profissionais

Entre as movimentações apontadas pelo Coaf, destaca-se um pagamento de R$ 938 mil, realizado em 2023, do escritório de Mirian para o de Aline Gonçalves de Souza. Em declaração à reportagem, Aline afirmou:

“Fui contratada pelo escritório Mirian Ribeiro para atuar como advogada em um processo judicial. Prestei o serviço e recebi meus honorários.”

Questionada sobre eventual ligação com processos no mesmo tribunal onde seu marido atua, Aline justificou que não poderia divulgar detalhes dos casos “por uma questão de ética e sigilo profissional”. Enquanto isso, Mirian atua em pelo menos 15 processos em tramitação no TRF-1, embora nenhum deles conste na relação apresentada por César Jatahy.

Movimentações Financeiras Atípicas

O relatório do Coaf evidencia que as movimentações financeiras realizadas por Andreson e Mirian seriam incompatíveis com a capacidade financeira e as atividades declaradas por eles junto às instituições bancárias. Entre 2018 e 2024, foram identificadas transações atípicas totalizando R$ 2,8 bilhões, envolvendo 802 pessoas físicas e 686 empresas. Por não se tratar de quebra de sigilo, apenas algumas das operações suspeitas envolvendo o casal foram detalhadas, sem abranger a totalidade dos recebimentos e transferências.

Ligações com a JBS

Outro ponto relevante nas investigações diz respeito a dois pagamentos realizados pela empresa JBS ao escritório de Mirian: R$ 11,5 milhões, em 1º de junho de 2023, e R$ 4,6 milhões, em 16 de junho de 2023 – totalizando R$ 15 milhões. Segundo o Coaf, Mirian justificou os valores como honorários advocatícios pagos pela JBS. No entanto, os créditos mensais provenientes da empresa excedem em cerca de sete vezes o faturamento declarado pelo escritório, o que aumenta as suspeitas quanto à origem e à regularidade dos recursos.

Caminhos das Investigações

A Polícia Federal, que já obteve a quebra de sigilo bancário dos envolvidos, segue analisando o material apresentado pelo Coaf para apurar a extensão e os desdobramentos deste esquema. As investigações visam esclarecer se as movimentações financeiras e os contratos advocatícios estariam, de fato, ligados à prática ilícita da venda de sentenças, colocando em xeque a integridade do sistema judicial brasileiro.

As autoridades continuam a trabalhar para reunir mais evidências e desvendar as conexões entre os diversos envolvidos, enquanto a sociedade acompanha os desdobramentos de um caso que pode ter impactos profundos na confiança nas instituições do país.

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