Da assessoria
Deixar a cidade de Toledo, no Paraná, e apostar tudo em uma terra ainda sem estrada pavimentada no interior de Mato Grosso parecia loucura para muitos, mas para Marlise Paetzold Marafon e seu marido, Ademir (in memoriam), era uma aposta no futuro dos filhos. Com mais de 30 anos dedicados à agricultura e ao trabalho duro, o sonho virou realidade.
A paranaense mudou para Sapezal em 1998, aos 28 anos, acompanhada do marido, Ademir, de 33 anos, seus dois filhos pequenos, Adriano e Daniel, e a mudança carregada de esperança. A casa de madeira onde se instalaram, feita com madeira verde, era repleta de frestas e rachou com o tempo. A lavoura, no primeiro ano, era um campo de batalha. Sem crédito, conseguiram algumas máquinas emprestadas de vizinhos e plantaram os primeiros 50 hectares. “Não conhecíamos muito bem o clima e a vegetação, começamos a preparar a lavoura para o primeiro plantio. Chegamos praticamente sem dinheiro e sem crédito, porque ninguém conhecia a gente”, conta Marlise.

Nessa época, como Ademir passava o dia e a noite na lavoura, Marlise levava o almoço para o marido junto com os filhos, para que eles pudessem vê-lo. “Eles saíam de manhã para aplicar calcário, depois incorporavam o calcário durante o dia e, à noite, eles espalhavam o calcário de novo. Então, eu levava o almoço para eles, para otimizar o tempo, e levava os meninos comigo para poderem, pelo menos, almoçar com o pai e eu ficava abanando um galho de mato para tocar os bichos”, lembra.
Com o tempo, os frutos do trabalho duro começaram a aparecer. “Com os anos, a gente começou a conseguir alguns créditos, sempre com a ajuda do nosso sócio, Adelar, irmão do Ademir. Ele morava no Sul na época e sempre incentivava muito a gente também. E, com os anos fomos melhorando. Haviam muitas dificuldades, houve um ano em que a gente quase desistiu, porque o preço da soja caiu muito e outros que choveu demais, mas a gente foi enfrentando, levantando crédito, comprando máquinas e aumentando a área plantada. Foi nesse cenário que os nossos filhos foram crescendo e se formando, sempre acompanhando o pai”, explica a produtora.
A paixão pelo cultivo da terra passou dos pais para os filhos. Adriano, o mais velho, formou-se em Agronomia, e Daniel, o caçula, escolheu a mecanização em agricultura de precisão. Ambos cresceram com o exemplo do pai e com a força da mãe, que formavam uma excelente equipe. Quando Ademir faleceu, há sete anos, a dor da perda veio acompanhada de outra responsabilidade, manter de pé o legado que havia sido construído pelo casal.
“Apesar das dificuldades que o agro oferece, o pai deles foi um apaixonado pelo setor e passou essa paixão para eles. E, graças a Deus, nossos filhos escolheram seguir o pai. E quando o pai faltou, eles ajudaram muito nessa questão difícil, porque é uma coisa que você não planeja e quando precisa fazer a passagem, ninguém espera. Então, quando o Ademir partiu, os meninos realmente se mostraram muito fortes e mostraram realmente a herança que o pai deles deixou, que era o amor pela terra. E eles estão aí, no começo trabalhei muito e depois comecei a fazer a sucessão, hoje estão indo muito bem, tenho muito orgulho deles”, destaca.
Logo após a partida de Ademir, os desafios se multiplicaram com a perda de crédito, burocracias e ao medo que surgiu, mas a força de Marlise foi além, continuou tocando a fazenda com os filhos e assumiu um novo papel de liderança, como delegada de núcleo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT). “Fui votada para delegada e a partir daí, abriu meus horizontes em relação a muita coisa, acredito que ela ajudou na minha superação em relação à perda que tive. Hoje, olho para trás e vejo toda essa história que vivi, que tive que passar com muita gratidão, porque nossos filhos estão aqui hoje e para mim, a melhor herança que o Ademir deixou foram eles”, enfatiza.
A delegada do núcleo de Sapezal conta que aprendeu ainda mais sobre a associação ao participar mais ativamente, compreendendo melhor o papel que desempenha. “No início, fiquei muito insegura, mas quando comecei a conhecer mais, fiquei apaixonada, porque tem um setor, tem uma associação que representa tão bem e luta pelas nossas causas. Quando você ouve falar, não é a mesma coisa de quando você participa. Fiquei encantada e comecei a passar esse encantamento para as pessoas, porque o produtor, por natureza é fechado. E acho que a Aprosoja MT me ajudou muito nessa questão de sucessão, de certa forma, abriu meus horizontes também para ver que a vida é encantadora”, conclui.
Hoje, Marlise vê com orgulho a atuação dos filhos, a continuidade da fazenda e o nome do marido sendo lembrado em cada detalhe. Sua história é sobre plantar e colher com fé, coragem e, acima de tudo, sobre o poder de transformar a perda em motivação para continuar fazendo aquilo que o marido amava. Uma mulher que, entre as dificuldades e noites mal dormidas, construiu raízes e uma base forte para que os filhos seguissem o mesmo caminho.